quinta-feira, abril 13, 2006

Desencontros Encontrados

...lá está, Natal é sempre quando nós quisermos...mas o melhor é ter a oportunidade de rever-te a gesticular de uma forma muito própria, com "o" sentido de humor retorcido e inteligente,com laivos altivos característicos de uma personalidade forte e indomável.
...o melhor foi ouvir as gargalhadas de cada uma, os olhares e as cumplicidades...o melhor foi perceber que nem os desencontros, nem as minhas distrações, nem as distâncias, nos fazem perder uma amizade tão indispensável...que não vejo a minha vida da mesma forma... sem saber que posso trocar presentes de Natal na Páscoa, que posso ouvir gargalhadas a uma mesa do Monumental.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Manias...

Regulamento"Cada bloguista participante tem de elencar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."

Recebi este regulamento, com recrutamento e algum sofrimento, com um obrigatório envolvimento, sem hipótese de omitir tamanho conhecimento ao abrigo de um juramento:

Não tenho 5 manias, nem 10, nem 1000, resumo a minha existência a uma única mania:

Tenho a mania que não tenho manias...sou desprovida de qualquer factor obstinado ou característico, que nos distingue e nos permite ser catalogados socialmente. Considero-me inadaptada e com um quadro psíquico ininteligível. A todos os meus pares, o mais sincero e sentido perdão pela minha existência.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Anúncio

Vende-se cérebro inútil com palavras desconexas. Oferecido (negociável com potencial gratificação pelo interesse demonstrado). Trata a própria.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Fobias Natalícias

O Natal aproxima-se, as ruas iluminam-se, as pessoas vivem na euforia de um consumismo próprio e característico da época. Ficamos todos mais sensíveis e humanos nesta altura, diria que o Natal é um despertador que nos alerta para aquilo que nos rodeia, do indiferente para o relevante…fazemos uma avaliação introspectiva de efeito temporal demasiado reduzido. Pudesse eu ser novamente criança e sorria ainda mais, não pelos presentes que adornavam a árvore de Natal mas por ter ido todos aqueles de quem gosto, vivos e a iluminarem uma das minhas noites preferidas. O tempo avança e vai tirando uma estrela, e outra…até que um dia a árvore fica despida, sem qualquer adorno. É nesta altura que os lugares vazios da ceia são insuportáveis…a todo o custo tento-me abstrair do impossível.
Antes contava os dias para o Natal chegar, hoje conto para que passe depressa…não suporto esta época e vivê-la com vazios provocados por uma família dispersa pelas perdas. Mas que venha sempre mais um Natal, de preferência com mais sentados à mesa e que não me falte nenhum.

quarta-feira, novembro 30, 2005

Factores de Perturbação

Depois de um longo tratamento, de uma dedicação precisa a eliminar os inúmeros factores de uma perturbação constante e evidente, devo informar que o resultado foi indubitavelmente desastroso. Estou na mesma, há quem diga que estou pior, cada vez mais próxima de uma existência que dança no limiar de um mundo próprio e de uma consciência colectiva. E a culpa é de quem? A culpa é por demais evidente desta sequência política a que nos temos que submeter. Lá foram as autárquicas, arrumámos os presidentes e vereadores...apoiámos alguns que se dizem suspeitos...na realidade todos eles o são, só que uns são menos argutos que outros. Aliás ser político neste País ou é um acto de generosidade ou é sempre suspeito...matéria para entreter o Poirot e o Sherlock Holmes!
A única coisa que me alegra é ver os cartazes dos “ditos” a perderem cor, forma e a perderem-se em pedaços...e sobretudo aqueles “sacos de plástico” da CDU a serem arrancados, pelo vento da Providência Divina, dos candeeiros de Lisboa.
Agora temos as presidenciais, a avaliar pelos candidatos creio que me vou abster de comentários, penso inclusivamente que pelo menu e pelos pratos do dia o melhor é ficar em jejum. A vantagem das presidenciais é que temos poucas caras que tenhamos que suportar diariamente naqueles estendais, mais, como são as mesmas e espalhadas pelo País, acabamos por nos habituar, tal como aquela jarra detestável que foi oferecida pela sogra mas que a dona da casa insiste em colocar em destaque....com esperança será o depósito das cinzas da mesma.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Comunicado

A todos os meus fãs, leitores e admiradores:

Vejo que o contador do "Farpas a Todos" ultrapassou o nº 1000 - A todos os "cliques": Obrigada!
Informo que o meu cérebro encontra-se em reestruturação. Peço desculpa pelo incómodo de terem que viver sem as minhas palavras. Prometo ser breve. Os neurónios disfuncionais serão eliminados com precisão.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Por aqui se vê que não há nada a fazer...

Conclusão da Irrelevância Relevante

Apesar de eu ser intemporal e não ter a capacidade de empacotar pessoas pela faixa etária, gostei das inúmeras pessoas que se lembraram de mim…se as souber conservar e se ganhar amizades a este ritmo, vou ter um funeral em grande…não chego a uma Amália ou à Madre Teresa, mas já dá para animar a festa!

Coisas Relevantes

A título de reconhecimento aqui vai: a todos os mimos, atenções, telefonemas, mensagens, sorrisos, abraços, emoções, jantares, gin’s e presentes oferecidos aos meus 27 anos – Um reconhecido e emocionado agradecimento.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Coisas Irrelevantes

Entre o último “post” e este, segundo consta tenho mais um ano, o que faz toda a diferença ter 26 e passar a ter 27. Estou absolutamente na mesma.
Eu percebo que a Humanidade precise de números, de raças, estilos, catálogos, inventários, classes, categorias, organigramas e afins, para se orientar…mas isto de atribuir um número em constante crescimento é desnecessário. Se analisarmos as consequências de ter idade numérica, percebemos que esta existe apenas para nos alertar daquilo que devemos ou não fazer, daquilo que podemos ou não podemos, das doenças prováveis e dos condicionamentos que esta implica conforme avança.
Escusam de pensar que estou a ser idiota e não me venham falar da idade biológica e do envelhecimento das células porque a idade em estado numérico nem sempre condiz.
Falo-vos disto e embora tenha feito 27 anos no dia 8, e apesar de continuar com 27 anos no dia 10…continua a ser indiferente. Sei que é sempre confortável em termos sociais dizer o nome, a idade, a profissão e quando se diz que estamos nos “vintes” ou “trintas” as pessoas partem do princípio que é óptimo, que estamos no “melhor da vida”…mas nós também temos desilusões, dores nas costas, consultas médicas, dívidas e problemas…então o que é que nos distingue de uma pessoa de 50 anos? Lá vem a resposta fácil: a maturidade, a vivência e a experiência. Pergunto eu: quem é que nos garante que uma pessoa de 50, 60 ou 70 tenha mais maturidade, experiência ou vivência? Nem todas as pessoas sabem conduzir a sua vida da melhor forma.
Apesar da loucura residente desta Farpas que vos atormenta, acreditem que viver de acordo com uma condição numérica só nos bloqueia. Perdem-se experiências fantásticas por fronteiras temporais, condicionam-se amizades, relacionamentos, aventuras, viagens, decisões e cumplicidades.
Nada me impede de ser responsável, de ter maturidade e de tomar decisões importantes aos 27…mas também ninguém me vai impedir, de me meter num Safari e desafiar um leão quando tiver 70…porque sou eu e não uma ordem numérica simples…tão simples e diminuta comparada com a vida e com as pessoas que me rodeiam e de que tanto gosto.

domingo, outubro 02, 2005

Electrodoméstico Dispensável

Hoje resolvi dar uma oportunidade à televisão, olhei para ela e tive pena daquele écran surdo-mudo e em luto constante. Já me arrependi. Fui logo confrontada com uma aberração de programa, um esquadrão qualquer com cinco parvo-alegres de espécie não identificada, a correr atrás de um mastodonte com 116 kilos de músculos e 54 de Q.I. Parece que o mastodonte passava a vida num ginásio a olhar para aquela massa espongiforme e esqueceu-se que tinha família.
Muito sinceramente era melhor que ninguém o tivesse relembrado…mas qual é a mulher que atura um calhau vivo? E aquela pobre criança que tem um pai que só serve para a assustar e eventualmente forçá-la a comer a sopa…à falta de um bicho-papão mais simpático.
Lá tive que ir beber uma água das pedras, daquelas levíssimas e atacar os Kompensan…realmente ver aquelas 5 gazelas desvairadas a correr atrás do mastodonte, o mastodonte a ser transformado em bisonte educado, a mulher a dançar a valsa…Feliz da criança que já dormia.
Como um mal nunca vem só…e porque mudar de canal traz sempre consequências, lá tive que encarar mais uma afronta. Refiro-me agora a um bando de anormais vestidos de tropa, a brincar às guerras. Quando o sistema de defesa militar serve um reality-show, já nada me surpreende, muito brevemente deveremos ter um bando de candidatos a brincar às presidenciais, e já agora o governo podia ceder o Palácio de Belém para cenário. Deixo mais uma sugestão, inventem outro com juízes e tribunais…assim também podem brincar com a Justiça e fica o ciclo completo.
Não sei se vivo num País, se na Feira Popular. Continuem a “estupidificar” as massas, a ocupá-las e a distraí-las daquilo que é realmente importante. Esta democracia encapotada é de um requinte extremo, continuamos a viver de uma elite bem informada que controla e gere (como o faz, não se sabe) o País, as opiniões e a iliteracia do povo português.
Já pensei converter a televisão em aquário, pelo menos os peixes não têm memória, são desinteressantes…mas não prejudicam.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Portugal Air Show 2005 - Uma Aventura em Pirueta

Regressei. Depois de um estado penitente prolongado, de uma cura intensa e de continuar a viver num estado de aerofobia, conto-vos a minha história….ou melhor a história da vítima que elegi para protagonista.
No Verão passado como sabem tive grandes aventuras aeronáuticas: turbulência, poços de ar, aterragens de emergência, assédios no aeroporto, um “quase” desastre de autocarro, enfim….uma panóplia que fez as delícias dos amigos próximos.
Sem histórias para contar, resolvi aterrar no Portugal Air Show em Évora. Consciente da minha especial relação com os meios aéreos e paisagens envolventes, decidi eleger uma vítima para vir comigo, na expectativa de ter a oportunidade de ser “A” testemunha em vez de ser o tema. Desejo concedido!
O primeiro anseio não era ver os aviões!...mas sim andar de avião. Lá fomos na qualidade de aviadores aspirantes a Kamikazes. Entre tendas, stands, aviões, helicópteros, torpedos, gente, militares e pessoas…lá encontramos uma alma enérgica, sorridente e voluntariosa. Pois, meus amigos: uma alma voluntariosa traz sempre “água no bico”. Fomos arrastados até à pista onde um assistente (bem engraçado, por sinal) de sorriso pasta dentífrica, “nos convidou” a experimentar a dar uma voltinha. O entusiasmo imperava...só não demos pulos porque a idade e o estatuto não permite.
Agora é que vem a parte interessante, a euforia paga-se especialmente quando ninguém se lembra de perguntar em que avião é que se dá “a tal voltinha”.
Sem saber e num acto de delicadeza sugeri que a vítima se divertisse primeiro.
A vítima não era vítima, até eu ter percebido que o tinha enfiado literalmente num inferno acrobático. Pois é…foi assim, com o grande piloto Luís Garção a vítima teve de tudo, piruetas…acrobacias….G’s positivos, negativos, invertidos, diagonais…tudo a que um “Ás pelos Ares” tem direito. A vítima saiu de lá mais agitada que um cocktail, nem uma centrifugação fazia melhor.
Para grandes aventuras é preciso ir ao engano e ter coragem para as enfrentar…aqui dou três gritos de honra pela vítima, porque eu não ia! Nem enganada.
Assim se mantém a minha tradição aeronáutica. Já sabem onde eu estiver e os aviões também…evitem!

segunda-feira, setembro 12, 2005

"Le Petit Prince"


A todos aqueles que ainda têm um planeta escondido, onde as gargalhadas, as brincadeiras e a liberdade não são proibidas.

http://www.saint-exupery.org/
http://www.little-prince.org/

quinta-feira, setembro 08, 2005

Amizades Incondicionais



Este é o meu amigo de sempre! Já nos aturamos há 8 anos, sabemos tudo um do outro...nunca nos zangámos, nem uma "birrinha" para amostra. Sempre que precisamos um do outro, há disponibilidade incondicional: não se fazem exigências, nem se cobram favores. Tudo entre nós funciona com naturalidade.
Somos muito compatíveis, porque fomos abençoados com uma boa dose de loucura, constituimos assim, uma possível ameaça à normalidade e a alguns padrões da pseudo-sociedade. Quando estudámos juntos, fazíamos o terror daquela (pobre) escola de música...acusados de revolucionários, indisciplinados,
anti-regras...mas sempre muito competentes e profissionais nas tarefas desempenhadas. Muitas vezes, fugíamos a ensaios de pesadelo, sorrateiros e de luz apagada..corríamos pela escada e acabávamos na Trindade a partir sapateiras. Claro que com tanta ameaça de terrorismo musical(ainda por cima saudável), deu num ataque cerrado de professores que na "suposta-preocupação-de-se-perderem-dois-alunos-com-talento", resolveram tentar afastar-me do "líder terrorista", já que era um caso perdido.
Hoje, digo a todas as pessoas que o tentaram fazer, que só vos resta uma derrota declarada, porque ainda hoje nos sentamos ao piano e tocamos a quatro mãos, ele está a caminho de ser um bom compositor, eu também não estou mal de todo...nenhum de nós se perdeu pelo caminho, apenas nos rimos por último da maldade e da mediocridade humana.
Com isto quero dizer, que uma amizade por ser incondicional é indestrutível.

Regresso Escusado

Se me perguntar qual é o melhor mês para visitar Lisboa, eu respondo sem hesitação: Agosto. Para conseguir visitar a cidade, sem ver aberrações humanas, gente desenfreada, espécies mal-educadas e sub-espécies não identificáveis, o melhor é esperar pelo bendito mês, que as ditas “movem-se” todas para o Algarve.
Na realidade, escusavam de voltar, continuem de férias, inundem aquelas praias, fomentem a desordem na terra mais próxima aos “Al’s” deste Mundo.
Andava tão contente de ver os supermercados arrumados, sem livros enterrados nas laranjas, sem pacotes abertos, com as prateleiras recheadas e livres de "aspecto de guerra a caminho". Levantava dinheiro, sem o desespero dos “retornados” a tentarem consultar o despautério da sua conta bancária pós-férias. Conseguia viver dentro de um automóvel, sem pensar nos meus últimos desejos, antes de ser morta por um inconsciente…até era possível, arrancar com um semáforo verde sem que ninguém apitasse (aqui, usam as buzinas mesmo antes do encarnado dar lugar ao verde).
O Metropolitano era um sonho, todos, quer dizer refiro-me aos poucos, que por cá andavam em Agosto, conseguíamos entrar numa carruagem sem sermos atropelados, estropiados, violentados, esmagados e os “ados” todos que incluam violência.
As ruas até tinham espaço nos passeios, não tínhamos que levar com os inquéritos e as promoções de brasileiradas enganosas, nem tão pouco saltar no passeio para evitar os "cócós" da espécie canina. Até os pombos andavam mais calmos.
Escusavam de ter regressado, voltem para lá…toda a matéria humana desnecessária, deverá ocupar o território português desertificado. Aproveitem, têm imenso espaço para fazer o que vos apetece, mas por favor deixem as pessoas, aquelas:…as normais….as civilizadas…viver em Lisboa ao sabor de Agosto.

sábado, setembro 03, 2005

Açores – Parte II



Quando se toca no Paraíso, corre-se o risco de querer voltar, de rejeitar tudo o que nos rodeia, de nos sentirmos agredidos com aquilo que nunca nos tinha agredido antes.
Dou por mim a imaginar as vacas a pastar na 2ª Circular, os cavalos a relinchar no Colombo, o Tejo transformado em Atlântico, o Rossio em Lagoa do Fogo. Ainda sinto os perfumes intensos e variados de cada flor, da densa vegetação, numa mistura mística com o calor da Terra.
Há qualquer coisa que nos atrai, um tipo de magnetismo que nos prende naquele cenário.
Sempre pensei que viver numa ilha tocava a claustrofobia, por ser um território fechado pelo mar, mas enganei-me. Uma ilha, um território delimitado concentra-nos, obriga-nos a encontrarmo-nos, a observar aquilo que nos rodeia e entrega-nos à plenitude de um horizonte sem fim. Tudo é mais intenso, os sabores, as emoções, as pessoas, as cores, os contrastes…desperta os sentidos e liberta-nos.
Agora de regresso a Lisboa, de que tanto gosto, sinto-me um vulcão em erupção, modero os meus impulsos. Imagino o que seria libertar as vacas do matadouro, raptar os cavalos do picadeiro do Campo Grande, replantar os espólios das floristas, abrir diques e levar o Tejo para o Estádio do Benfica (dava uma excelente lagoa, por sinal).

sábado, agosto 27, 2005

Açores - Parte I

Reencontrei-me com a Natureza. Tinha saudades do contacto com a Terra. A minha passagem por S. Miguel libertou o meu lado selvagem, dei por mim a desafiar o Atlântico, a querer mergulhar em cada lagoa apresentada, a provocar abismos. Tive vontade de me libertar de um Eu cosmopolita, atrofiado pelas regras e pelo tempo e ritmo que nos é imposto.
Acordo agora, com uma energia que só nos é dada pelo reencontro com a beleza, a arte do Divino. Não sabia que a cor verde podia ser tão versátil, que os vulcões que outrora queimaram a Terra, nos davam o mais belo dos silêncios.
É de facto difícil habituarmo-nos a um Mundo, a uma cidade construída, a aprender a dispensar a nossa ousadia, o nosso lado animal. Na realidade andamos calçados porque assim e alguém o determinou. Quem é que não gosta da sensação de sentir a areia molhada?...do mar a convidar-nos para entrar? Quem é que não fica reduzido à cor do sol no crepúsculo? Quem é que não consegue ceder à cor de platina do mar, quando este encontra a Lua?
Vivemos esquecidos daquilo que somos.

S. Miguel, Ponta Delgada.

Eis na fotografia as consequências de uma semana na ilha de S. Miguel, rodeada de Excelentes Amigos que entre a dedicação e um enorme carinho, provocaram em mim, sorrisos constantes.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Entre flaps e aterragens….

Depois de tanta turbulência, poços de ar, supostas aterragens de emergência, despir de casacos, seguranças e malas em espera, consegui ter no sexto voo de Agosto uma viagem decente…e foi assim de Ponta Delgada a Lisboa. Fiquei comovida de ter proporcionado aos céus uma viagem tão tranquila, porque normalmente onde estou, em matéria de aviões e aeroportos, acontece sempre alguma coisa. Depois de uma aterragem brilhante, tão doce que só os travões anunciaram o toque com a Terra, estava um autocarro de escape paciente, com um motorista reduzido à sua insignificância perante um Air Bus 310.
Agora vem a melhor parte: o que é que pode acontecer de mais ridículo num aeroporto, depois de uma viagem de avião? Morrer de desastre de autocarro. Não podia deixar a minha fama em milhas alheias: não aconteceu nada ao avião, ia acontecendo ao autocarro!...Mas como tudo o que passa comigo tem uma certa ironia, digo-vos que o embate ia sendo com o transporte da bagagem do dito voo. Era a chamada morte de “malas aviadas”.
Pior que morrer de desastre de autocarro numa pista de aviões, é aturar um idiota com a cabeça banhada de gel, a mandar piropos de mau gosto, e eu sem alternativa ter que olhar para aquele cenário de guerra, para aquela cabeça em forma de campo de minas, para aquele sorriso de trincheira convencido que tinha piada e que eu estava a gostar. Vinda do céu estive mais próxima do inferno.

domingo, agosto 07, 2005

Sebastianismos….

É caso para dizer: vou-me embora, vou partir e não me apetece! Lá estou eu com as lamechas e saudosismos, é de facto insuportável quando se vive com emoções aos kilos.
Sou daquelas espécies humanas que se pudesse carregava a família, os amigos e alguém especial para todo o lado. Pena que as novas tecnologias, ainda não permitam empacotar aqueles de quem mais gostamos. Já me estava a imaginar de caixinha sofisticada, a transportar todos os que fazem e são parte de mim.
Eu sei: nesta altura estão a pensar que eu realmente devo sofrer de emocionite aguda, mas de facto levo um vazio tocado pelo medo de não poder voltar a abraçar, aqueles que eu queria que estivessem na caixinha.
Depois, os telefonemas “dos beijinhos e boa viagem”…os silêncios intermédios e vozes comovidas, deixam-me numa pieguice total.
Estou com a sensação que me alistei nos Comandos e que vou combater sem regresso marcado, ou que vou para o mar, sem terra à vista, à procura de uma tubarão branco.
Ainda não fui e já têm saudades. Eu, ainda vou e já me apetece voltar.

Um dia no resto de uma vida…

Numa destas noites, contempladas pela insónia e por um pseudo-cérebro que teima em não desligar, estive a avaliar emoções e realidades. Escusado será dizer que qualquer réstia de esperança de o sono me visitar, foi imediatamente fulminada. Emoções e uma noite tranquila não são compatíveis.
Tive uma autêntica centrifugação de pensamentos, de lavagem delicada a 90º.
Um dia é o suficiente para mudar tudo aquilo que nos rodeia, para direccionar a nossa atenção e criar novas emoções. Estou para aqui a disparatar em frases buriladas e lembrei-me de um filme interessante “As Pontes de Madison County”. Quando vi este filme, percebi que o ser humano por muito convicto que seja, por muito que se entregue a uma vida que lhe foi destinada, pode ter verdades e realidades abatidas com o aparecimento de outro. A vida de uma mulher, entregue a um quotidiano familiar, foi “abanada” por uma visita inesperada. Ando para aqui com guiões de filmes para explicar, que quando encontramos uma pessoa que nos completa é arrasador em todos os sentidos. Por um lado é fantástico, surpreendente, sufocante e assustador. Por outro, leva-nos a pôr em causa todas as certezas anteriores, os sentimentos antigos, o tempo dedicado e uma realidade adquirida.
Quando o tal dia se prolonga e nos alimenta a certeza, faz com que deixemos de poder viver sem ele, dependemos da nova realidade que nos desafia e nos conforta. É soberbo, acreditem!

quinta-feira, agosto 04, 2005

Há quem prefira os talheres de peixe…

Andam a fechar jornais. Parece que o “formato papel” está seriamente ameaçado; entre telemóveis, Internet e televisão: venha a notícia e escolha.
A crise já se manifestava quando na compra do jornal tínhamos a hipótese de fazer enxoval, cinemateca, enciclopédias, forrar a casa de tapetes, coleccionar roupa, ganhar coletes reflectores e sacos de praia. Ninguém consegue avaliar o número de leitores, se a maior parte compra o jornal para ter direito a um talher de peixe. Se um jornal que se destina a informar, precisa de uma toalha de praia para ser vendido, provavelmente a toalha de praia será o motivo da compra do jornal…este servirá para forrar caixotes ou limpar os vidros.
Mais um indicador da crise é a quantidade de fotografias/imagens que os jornais ocupam em cada página, já ninguém tem paciência para juntar palavras e ler frases, informação rápida é o que se quer. Uma boa fotografia da guerra do Iraque, desde que identificada é o suficiente: é uma guerra e estão lá os americanos. Na realidade já ninguém se preocupa muito com as causas e as consequências, procuram apenas os factos, a informação instantânea.
Muito brevemente os jornais da “nossa praça” terão que encontrar ofertas mais sugestivas, como por exemplo um bilhete para um concerto ou para o teatro, ou até uma visita a um museu, para que os leitores voltem a ser leitores e deixem de ser coleccionadores.

sábado, julho 30, 2005

De avestruz a peru

Férias, formato adorado por todos, símbolo de liberdade, ócio e inutilidade. Nesta altura afogam-se relógios mesmo à prova água, ignora-se o calendário, perde-se a obrigação.
Todas as contas e falta de dinheiro são alegremente compensadas por subsídios e empréstimos bancários…vamos lá enterrar a cabeça porque pelas férias, qualquer um é primo da avestruz.
É com regozijo que vejo a liberdade de cada um, condicionada ao quadrado de areia que lhe resta para estender a toalha. De regozijo a júbilo sinto o ócio devastado pelo arrasto da sagrada família, que entre cadeiras e afins, se instalam ditando regras e ritmos condicionantes.
Depois temos as viagens, malas e bagagens, aeroportos, horas de espera, hospedeiras irritantes, comida intragável e um guia que comanda o exército, nos possíveis prazeres de um mundo novo.
De regresso, sem dinheiro, mais cansados e sem férias, recebemos o trabalho, as obrigações e o relógio com enorme gratidão. De avestruz vamos a peru e que venha o Natal.

quarta-feira, julho 27, 2005

Casamentos Devolvidos

Resolvi fazer umas compras, dar boas novas ao roupeiro que há muito tempo vê as mesmas coisas penduradas. Inspirada pelos saldos e de carteira apoiada, pelos sempre fantásticos e generosos avós, fiz uns investimentos. Como não podia deixar de ser, a tagarela da Farpas lá meteu conversa com a empregada da loja, que de forma paciente tentava dissuadir-me a “vestir-e-despir” as possíveis aquisições. Apesar de muito simpática e persuasiva, resolvi arriscar e comprar sem vestir…confesso que é das piores coisas que me podem fazer…mais…só não vou tomar café de pijama porque ainda não tenho o estatuto de louca absoluta.
Tudo isto para vos contar o seguinte: os Casamentos obrigam a devoluções. Passo a explicar:
Segundo consta parece que temos outra moda, a de cancelar casamentos. As tias e os amigos compram as vestimentas e acessórios em função dos ditos. Algumas até procuram roupa de Outono, e acabam por comprar vestidos deslumbrantes que ficam condenados à devolução, porque a noiva se arrepende profundamente de casar com o Fábio Vanderlei. O Fábio por sua vez, descobre que a futura sogra faz magia negra e tinha o ex-genro representado com o boneco, em estilo espantalho, com um machado enterrado na cabeça! A Tia Hortência lá foi devolver o “vestido folhareco”…lavada em lágrimas, conta que era o 3º casamento do ano a ser cancelado.
Depois temos a segunda parte da história, aquelas que usam e devolvem. Esta já é muito antiga, mas é sempre bom recordar. Compram, usam e depois devolvem, até porque um vestido para um casamento é sempre deprimente por muito bom gosto que tenha.
Moral da História: a devolução de vestidos de casamento é o índice mais fiável para uma futura estatística de casamentos cancelados.
Vivemos de forma volátil e desprendida, casamentos anulados, divórcios constantes, casamentos instantâneos, divórcios reconsiderados…Meus Caros: Viver a dois não é propriamente um investimento na bolsa!

terça-feira, julho 26, 2005

Nicolau


Tenho saudades da tua companhia, brincadeiras, ternura e da serenidade que transmitias enquanto dormias. Devo-te as poucas gargalhas que libertei quando tive uma perda ainda maior. Dentro da angústia foste a melhor terapia, pena que também tivesses partido de forma drástica...aliás, como tudo na minha vida.

quinta-feira, julho 21, 2005

Fui iniciada nos pauzinhos

Tive um almoço de família, em formato típico português, a deglutir um naco de vitela. Entre conversas de idade avançada em estilo descritivo, resolvi acompanhar a sobremesa com uma leitura em diagonal do “Independente”. Páginas e páginas de assuntos sérios que me alertaram para uma das minhas lacunas gastronómicas: comida japonesa. Percorri linhas de palavras em itálico, que me levaram a um enorme desejo de provar um sushi, um sashimi e os iaki’s todos. Discretamente retirei o endereço do “Kê Sushi”, não fosse a família pensar que o meu estado de loucura latente se tivesse agravado.
Com algum entusiasmo, levei a ideia ao meu guia espiritual da gastronomia. Muito conhecedor desta cozinha, de imediato prontificou-se a colmatar mais uma distracção dos meus 26 anos de existência. Assim foi, além de guia, uma alma com extrema paciência, que de ar complacente observava a minha inabilidade com os “talheres” dos japoneses.
Muitas tentativas falhadas...muito kobashira, aoyagi, hamachi, se perderam pelo caminho ou mergulharam na piscina do molho de soja.
Por natureza sou persistente e o desejo de experimentar era tal, que inventei novas técnicas de comer com pauzinhos:

Técnica dos pauzinhos com auxílio de um dedo: um pauzinho para empurrar e um dedo para ajudar.

Técnica dos pauzinhos em cada mão: pauzinho na esquerda, pauzinho na direita vale mais, do que um sushi a voar.

Técnica dos pauzinhos em pontas: pauzinhos em jeito de farpas numa investida ousada.

Técnica dos pauzinhos fingidos: utilizadas as técnicas anteriores mas finalizada na postura correcta.

Voltei a exercitar as minhas técnicas num extraordinário restaurante japonês, “O Novo Bonsai”. Mais uma vez, na companhia do meu guia que além de paciente e excelente amigo, é de um altruísmo incontestável...sujeitou-se a mais uma missão impossível, que teve apenas como “imprevistos de resultado já esperado”: a minha trapalhice, de certa forma apagada pelo prazer de estarmos juntos e pela boa conversa.

Como ficar falido: Ideias Várias

Pedir um divórcio litigioso
Liquidar as dívidas
Pagar as contas
Amortizar empréstimos
Pagar Impostos
Ter filhos
Ir ao dentista
Alimentar a sogra
Ir de férias
Ter um carro a gasolina
Fazer compras num supermercado
Fumar uns cigarrinhos
Trabalhar honestamente
Pedir cartões de crédito
Hipotecar a casa
Ir às festas da society
Morrer e ter uma cerimónia fúnebre completa.

quarta-feira, julho 20, 2005

Para o M. de Vasconcelos

Hoje tive uma manhã excelente. Acordei alienada com o toque da campainha…era o carteiro! De cabelos desgrenhados e de olhos em jeito de telas descaídas, consegui assinar o cartão que me entregou o Sol e me convidou a um sorriso que ainda persiste pela tarde. Recebi um pacote em formato de almofada (que me apetecia abraçar), com a assinatura do meu querido amigo Vasconcelos.
Já acordada e derretida de curiosidade, espreito para dentro da almofadinha e vejo um excelente pequeno-almoço! Podem tentar…mas não vos conto as iguarias. Maior surpresa foi o meu querido amigo Joãozinho de Bragança ter tido a coragem, a ousadia de
vir por “mares nunca antes navegados” ter com a Luisinha. Depois de “pequeno-almoçar” voltei a dormir abraçada ao Joãozinho de Bragança, antes que ficasse tentado a explorar o Tejo.
O melhor de isto tudo é ter um Amigo assim. Para si, Vasconcelos, ósculos e abraços de agradecimento.

Sempre sua,
Luisinha.

Portugal nasceu para Conquistar, não para trabalhar.

Num acto de inconsciência absoluta experimentei trabalhar. Foi catastrófico, além de ter adoecido, ainda tive ataques de pânico, subidas e descidas de açúcar…uma coisa horrorosa.
O Ser Humano é curioso por Natureza, de facto experimentar trabalhar é uma ousadia, mas não fui capaz de resistir a tal tentação. Como tenho alguma dificuldade com a rotina, resolvi variar e não passar a tarde toda ao telefone com a prima da terra, não arranjei as unhas, nem li o resumo das Telenovelas, nem sequer fui às compras.
O desgaste foi tal que não deixei os clientes pendurados ao telefone, mantive a linha desimpedida e até enviei um fax. Não imaginam o esforço que fiz.
Fico amargurada ao confessar esta deslealdade para com os portugueses. Foi uma traição à nossa Imperial natureza.
Já dizia o nosso estimado Eduardo Lourenço “que Portugal está voltado de costas para a Europa”, e muito bem. Portugal já não tem nada a conquistar na Europa, nem sequer é parte dela, é um tampão do Atlântico. De futuro resta-nos ser a central de resíduos tóxicos de uma pacífica e silenciosa globalização.
Portugal não produz, deixa-se produzir, é a chamada economia de meios. Vivemos da saudade e da glória, de um tempo que nos deixou como herança um património, para o qual não temos recursos para manter ou recuperar.
A economia de meios é por excelência, o fio condutor deste rectângulo à espera de Novos Mundos por conquistar.

Ementa para Hipocondríacos:

Sopas

Canja de Galinha do Campo S/hormonas
Caldo de Arroz “Bem Lavado”


Entradas

Tostas Integrais com Trigo esterilizado
Cenoura Ralada Amukina
Alface flambé


Pratos

Tarte Kompensan
Bife Pursennide
Pescada Dulcolax
Filetes Aspirina
Lombinhos Ozonol
Cozido com todos “Rennie”
Bacalhau Água das Pedras Levíssima
Salsichas Librax


Sobremesas

Bolo de Menta Cialis
Mousse Dimicina
Gelatina Ananase


Cafés

Café à lá Lexotan
Café Valium-oso
Café au Xanax


Bebidas Brancas

Água Filtrada e Fervida
Álcool Etílico

Oferta da Casa no acto do pagamento:

Internamento em quarto particular previamente esterilizado numa clínica à sua escolha.
Ainda oferecemos um voucher para umas termas de recuperação hospitalar.

IVA DEDUTÍVEL NO IRS. PASSAMOS RECEITA.

segunda-feira, julho 18, 2005

Compras num Supermercado: De aventura a despautério!

Hoje, mais uma vez, transformei-me em fada-do-lar! Uma autêntica fada que veste avental e vai às compras. Tenho dias em que sou fada-carpinteira, fada-electricista, fada-engraxa-sapatos, fada-da-paciência e todas, todas a que uma vítima se pode candidatar.
Fui ao supermercado, onde se faz as compras, onde se encontra produtos e ingredientes necessários para uma sobrevivência normal, supostamente.
Entre corredores e prateleiras imensas, com o IVA a 21%, constatei que é raro encontrar um produto alimentar em estado dito natural. Seguem-se as farpas:

O Leite

Já não bastava o melodrama do Gordo, Meio-Gordo e Magro, agora temos um com cálcio, outro com magnésio, outro para a digestão, um para juniores, outro para seniores, um com soja, outro sem soja e um para o colesterol.

Iogurtes

Dantes perdíamos horas a escolher os diferentes sabores de fruta, agora perdemos horas a escolher sabores de sobremesas. Depois temos também as variantes das calorias e percentagem de gordura, os bifidus activus, cremosos, não-cremosos, com cereais, sem cereais e para o Colesterol.

Bolachas

Produto alimentar historicamente diversificado. Actualmente é levado ao exagero. Temos bolachas com todas as combinações, sabores e formatos. Podem ser: enjoativas, doces, salgadas, integrais e outras que não conseguimos perceber a que é que sabem.
Uma outra variante de Bolachas: as bolachas SEM, sem açúcar, sem sal, sem gordura,sem colesterol, sem qualquer utilidade.

Meus Caros, mediante os factos só posso alegar o seguinte: não sei se estou num supermercado, se fui à farmácia.
Não posso deixar de acrescentar, que se uma pessoa come bolachas é porque pode, e comer uma bolacha é supostamente um prazer, não uma combinação química.

Cereais

Tenho saudades dos corn flakes…com aquele galo idiota na caixa. Os cereais devem ser exactamente aquilo que a designação inclui: cereais.
Hoje temos mutações e mixórdias dos ditos. Já para não falar do colesterol e da linha zero.

Pasta Dentífrica

Uma tem cálcio, a outra é branqueadora. Uma dura 24h, a outra mantém o hálito fresco. Uma é para gengivas sensíveis, a outra é de hortelã-pimenta. Será que é difícil perceber que precisamos de cálcio, branqueamento, 24h, hálito fresco e restantes? Não seria mais inteligente e pragmático incluírem a “tralha” toda numa pasta dentífrica só?



A Minha Preferida: Água


Ninguém ousaria (há uns anos atrás) dizer que a água tem sabor. Pois, meus caros, TEM e dos mais absurdos.
Água que sabe a: maracujá, limão, laranja, azeitona, cebola, mostarda e picante.

Como tudo o que possa alegar é inútil, aqui ficam umas sugestões para futuros produtos:

Leite com sabor a bacalhau
Manteiga com sabor mostarda
Melão com sabor a presunto
Iogurte com sabor a arroz
Esparguete com sabor a algas
Chocolate sem chocolate
Batatas fritas com sabor a ovo estrelado

Todas as sugestões são Bem-vindas. Atrevam-se.

sábado, julho 16, 2005

No Comments


Entre abraços, tropeções, gargalhadas, discórdias, cumplicidades...esta é uma prova de amizade que caminha para uma década!

À Procura da Terra do Nunca


Tenho saudades do tempo em que tratava a Natureza por tu.
Tenho saudades do tempo em que me escondia nos braços da minha Mãe.
Tenho saudades do tempo em que o Natal não era incompleto.
Tenho saudades do tempo em que ria porque tinha motivos para rir.
Tenho saudades do tempo em que não sabia o que era a tristeza, a mágoa ou a desilusão.
Tenho saudades do tempo que nunca foi tempo para mim, mas sim uma desejada eternidade.

sexta-feira, julho 15, 2005

Regras Fundamentais para Viver em Sociedade:

Ver Televisão
Ler Revistas Sociais
Ter Telemóvel
Ser do Partido Actual
Concordar Sempre
Não ter Opinião
Não ter interesses específicos
Ter um Carro
Falar de Países Estrangeiros
Adoptar o Cinismo e a Hipocrisia
Ser Conveniente
Não ser Diferente
Fingir que se é Feliz
Ser Casado
Ter cartões MB
....creio que devem faltar umas quantas, mas como nenhuma delas é importante, os selvagens dos anti-sociais irão perdoar esta Farpas, que tanto vos admira.

Teorias de uma Ave Nocturna

Não suporto manhãs. Por mais que tentem convencer-me com argumentos idílicos e provérbios “do cedo erguer, dá saúde e faz crescer”, sinto-me sempre num estado letárgico que nem à força de banhos se dissipa.
Não aguento: passarinhos, noticiários das 7 da manhã, pequenos-almoços substanciais, pessoas sorridentes e de ar acordado.
Não suporto: despertadores, que acendam a luz e “anicas-troliteiras matinais”.
Detesto: corridas matinais e maníacos saudáveis.
De facto, nem o provérbio se salva...”dá saúde e faz crescer”, crescer o quê?...só se crescer uma forte vontade de ficar na cama... e dá saúde? não consigo perceber como... saudável, é sermos livres e não contrariarmos o nosso relógio biológico. Este provérbio deve ser proveniente dos discursos da CGTP com pitadas stalinistas.
Depois de ter sido dizimada com a alcunha do Trafaria, aquele que só trabalha depois do meio-dia, fui contemplada com o estudo científico que explica, que as pessoas que dormem bem (e muito!) vivem muito mais tempo. Conclusão: além de dormirmos mais que os outros, ainda nos resta tempo para viver.
Segunda teoria: as pessoas de Q.I. superior, pela constante actividade cerebral, devem ter longas horas de sono (para reparar e compensar o esforço constante de uma actividade rara: pensar). O próprio Einstein dormia 14 horas. Conclusão: como não sou um génio, mas tenho pena, pelo menos contento-me com as horas permitidas ao estatuto referido.
Não há duas sem três (isto hoje, está um bocado popularucho, que me perdoem os intelectuais): a terceira teoria é a minha. Não temos que obedecer a relógios, horários pré-concebidos, viver em rotina e ver o sol nascer todos os dias. Devemos também dar à noite, o prazer da nossa companhia. Nunca repararam porque é que a Lua está sempre a crescer, a minguar, a aparecer e a desaparecer? é pelo estado de solidão constante...até porque as estrelas são muito elitistas e organizam-se em constelações próprias e de acesso restrito.
Com isto, apelo ao vosso bom senso: desafiem relógios e mentalidades...façam companhia à Lua e deliciem-se com a banda sonora da noite...que é simplesmente fantástica.

quarta-feira, julho 13, 2005

Farpas, Janjão para os amigos



vai passear em Agosto...mas não conto por onde vou, só sei que não vou andar por aí!

Desculpas para se viver no Frigorífico

Estou tão impaciente com as temperaturas que assolaram Lisboa, que só me apetece viver no frigorífico. O desespero é tão evidente que dou por mim de cabeça enfiada na segunda prateleira, a verificar as datas de validade da hortelã e do tomate coração. O extremo foi quando resolvi estudar todos os ingredientes e componentes dos molhos “plásticos” para temperar saladas, o que distingue a mostarda tradicional da outra, se a lata do sumo tinha a mesma dimensão da lata da cerveja, se meio limão perde mais propriedades virado para baixo, ou virado para cima e se as compotas alteravam a textura com as diferenças de temperatura (dentro da escala do frio, claro).
Para justificar a minha presença no frigorífico, resolvi fazer um estudo logístico dos produtos mais utilizados e dos menos necessários. Com a devida ordem, lá organizei as prateleiras que estavam dignas de um estudo arquitectónico. Depois, porque as minhas tendências artísticas assim o requerem, fiz um estilo de design de interiores com produtos refrigerados, tom sobre tom, ficou um must!
Hoje, ainda vou ler as instruções dentro do frigorífico para dar um ar mais realista, e como se costuma dizer: “que ao pé do pano é que se talha a obra”.

Reconstrução Cerebral com Zona Identificada

Tenho uma enorme saudade do tempo em vivia com verdades absolutas, sem dúvidas ou hesitações. A estupidez tem as suas vantagens, apazigua a ansiedade da dúvida constante.
Procuro futuras respostas para certezas antigas. Vivo agora um estado de consciência absoluta. A clarividência consome. O conhecimento excessivo e aprofundado retira-nos a objectividade necessária para agir, elimina a intuição. Prefiro viver de forma intuitiva, sem ter que criar teorias da relatividade geral ou contrariar o “Ser ou não Ser, eis a questão?” ou o Descartes, para perceber aquilo que sinto.
A incerteza nasce, cresce e elimina o equilíbrio anteriormente adquirido.

Pensamento por Conveniência

Alguém disse: “Quando vem uma forte vontade de trabalhar, sento-me no sofá e espero que a crise passe”. É isso mesmo, porquê contrariar palavras tão sábias?

segunda-feira, julho 11, 2005

Sou Táxicodependente II

Uma vez que vos confessei a minha grave dependência, não posso deixar de fazer algumas alegações a meu favor.
Ser táxicodependente é também um estudo sociológico. Todos os dias, entro em carros diferentes, com aromas e perfumes diversos, com decorações de Fé ou desportivas. Cada carro tem uma história para contar, umas felizes, outras de enorme sacrifício e outras são autênticos dramas que nos passam ao lado. Não são histórias sensacionalistas ou de manipulação da opinião pública, são factos de vida. Os taxistas são igualmente bons observadores da realidade, e por vezes são excelentes contadores de situações que coleccionam de “conduzidos” como eu. São óptimas fontes de alerta para os reais desequilíbrios da sociedade, são os primeiros a falar de racismo, de roubos e de perigos diversos. Podem ser igualmente um barómetro económico, uma vez que são os primeiros a “sofrer a crise”, como dizem.
Durante anos tive um taxista privado, o meu taxista, como lhe chamava. Tenho saudades dos tempos que me telefonava, para perguntar a que horas a menina Joãozinha precisava que a fosse buscar, ou quando (com algum orgulho) dizia que já conhecia os sítios “onde a malta nova se diverte”.
O meu taxista, já era meu amigo, tão protector, que esperava sempre que entrasse em casa, que fez questão de se apresentar aos meus pais. Era um “Homem do Minho”, dizia muitas vezes de olhar enaltecido. Ofereceu a sua casa minhota e os repastos preparados pela família. Já era parte da minha vida e eu era parte da dele. Depois de tantas “corridas” e por vezes taxímetros ignorados, sabia toda a sua vida que em parte foi exemplo para a minha.
Depois “do meu taxista” resolvi não adoptar outro, seria uma total deslealdade, mesmo sabendo que neste momento deve estar na sua casa do Minho, com a sua família e a usufruir de uma reforma tão esperada. Hoje tenho muitos taxistas, muitas histórias de vida que surgem como peças de puzzle de forma tão complexa como a nossa existência.

sábado, julho 09, 2005

Sou Táxicodependente

Deixo aqui, uma nota de solidariedade a todos os meus pares, que ainda não têm carta de condução. Não posso deixar de vos avisar que a condição de conduzido é altamente reprovável em sociedade.
A inutilidade e comodismo são apelidos de nascença para os conduzidos. Contudo temos que saber distinguir e analisar cada tipo de conduzido.

Conduzido por altruísmo:

Aquele que tem carta, que conduz na perfeição mas que se deixa conduzir.

Conduzido ambientalista:

Tem carta, sabe conduzir mas não tem carro. Atribui os níveis de chumbo aos que o conduzem.

Conduzido economista:

Tem carta, carro e tudo a que tem direito, mas é conduzido para poder investir o capital noutros prazeres da vida.

Conduzido farinha-amparo:

Tem carta mas não sabe como.

Conduzido solitário:

Aquele que conduz mas prefere ter companhia.

Conduzido em estado puro:

Aquele que não tem carta, não tem carro, não sabe conduzir e não está interessado.


Mediante a apresentação dos diversos tipos de conduzidos, não posso deixar de referir que o último tem graves consequências. Ser conduzido em estado puro é o passaporte para a exclusão social. Não adianta ter um Q.I. acima da média, mestrados, doutoramentos, ser cientista ou fazer pesca submarina, somos de imediato considerados, uma aberração.
Perante este cenário redutor, o caminho está na táxicodependência.
É com algum pesar que vos anuncio que sofro deste mal. Sou dependente em último grau. Tive a família reunida e recebi todo o apoio das melhores instituições para uma cura definitiva. Fiz internamentos na Carris, no Metropolitano e na CP. Amigos próximos sugeriram terapias alternativas: equitação, ciclismo, vela, gaivotas, etc.
Sem qualquer resultado só me resta contar-vos a minha experiência.
Muito brevemente "Sou Táxicodependente II"

"Como tornar-se doente mental", de J.L. Pio Abreu

Dei por mim a vaguear por Lisboa, sem qualquer consciência do que estava a fazer, ou do que queria fazer. Deambulava em estado invisível pelas estações do metropolitano, pelas lojas devastadas pelos saldos, pelas ruas preenchidas por rostos vazios e tristes. Senti-me consumida pelo cansaço, e sem encontrar razão para o estado não anunciado, sentei-me numa esplanada. O lugar era estratégico e decisivo e por momentos parei o tempo. O cenário foi desastroso: um retrato consumido pelo tempo, rasgado pela ausência de emoções, invadido e consternado. Naquele momento percebi que somos todos invisíveis, que vivemos de forma distraída, que o sol brilha no azul fantástico de Lisboa, na esperança de ser contemplado com um sorriso, que as janelas e as varandas contam muitas histórias, e que as ruas são decoradas por seres humanos, que se julgam diferentes e condenados a esta forma de vida.
O relógio voltou a dar sinal e por cada segundo observei um rosto, um gesto e uma palavra. Horas de palavras, rostos e gestos, provocaram-me uma enorme ansiedade, construíram silogismos sem sentido. Quando recuperei a consciência estava na FNAC. Ainda desfocada, consegui perceber que tinha uma pessoa de colete verde, encostada a um balcão, de sorriso amestrado, e de dedos preparados ao teclado para satisfazer os meus caprichos. Na tentativa de recuperar a minha condição humana, perguntei por um livro que tem todas as respostas para nos libertar da “tal forma de vida”. Só o título tem efeitos imediatos. Inquiri então, àquele ser amestrado, se o livro “Como tornar-se doente mental” andava pelas prateleiras daquele supermercado. Os que aguardavam vez e o ser do colete verde, num silêncio profundo e de olhar complacente, renderam-se às evidências.
Aguardei em sufoco pela solução tão desejada. Estava sorridente, controlada por gargalhadas compulsivas que teimavam em não sair. O livro foi entregue em mão e de ar resignado, o ser do colete verde, desejou-me uma excelente tarde com enorme condescendência. Os que aguardavam abriram alas de jeito gentil e assustado. Já de saída, dirigi-me a uma caixa para pagar uma nova forma de vida. Não tendo ainda autoridade para fugir com o dito, soltar os alarmes e reunir os seguranças, resolvi ser normal. Na caixa, estava um rapaz de ar saudável, que parou literalmente quando viu a minha aquisição. Ficou consumido. De saudável passou a depressivo, ansioso, paranóico, esquizofrénico e maníaco….desenfreado correu para um microfone e anunciou que aquele era o último exemplar de uma edição acabada. O caos instalou-se e todos, todos os meus semelhantes perceberam que a solução para não ser invisível, estava nas minhas mãos: o último exemplar.

quinta-feira, junho 30, 2005

Geração Gelly-Já

Dei por mim a pensar. Actividade rara e cansativa. Atrás dos pensamentos vêm as memórias e a que surgiu foi: a gelatina gelly-já. Nem sei bem se era assim que se chamava, mas não pude deixar de recordar os meus ataques de açúcar, que eram compensados por esta gelatina instantânea, deslavada e com sabor a congelador.
Ao pensar no congelador lembrei-me da minha geração, os actuais e futuros. Para além de sermos uma geração gelly-já, onde tudo é instantâneo e se consome, estamos congelados.
Já não bastava termos cara de gelatina saltitona, ainda nos condenam a existência.
Entre iguarias e doces conventuais, as gelatinas não têm qualquer hipótese ou representatividade. O que acontece é muito simples:

Gelatina procura emprego
A Gelatina conhece os brigadeiros? e as tortas de Azeitão? Não. Paciência da Cunha.
Quais são as habilitações da Gelatina? Licenciatura, Mestrado, Inglês, Francês, Alemão, Mandarim….ALTO! Demasiadas habilitações para uma gelatina. Paciência dos Espertos.
Dê uma voltinha, ó srª Gelatina….não tem gomos suficientes. Paciência do Silicone.
Gelatina com possível sucesso, estou impressionado, vá para os arquivos agarrar o pó.

Gelatina faz amigos instantâneos
Tens carro? Óptimo.
Não podes sair à noite? Acontece.
A tua roupa é um bocado pindérica! Fica para a próxima.
Tem conversas secantes, estilo inteligentes?! Prazer e até sempre.
Tens sucesso?! Afoga-te.
És gira ou giro: atira-te contra a parede.
És feia ou feio: o ideal para não fazer concorrência.

Gelatina chega ao poder
Fatos: Armani, Gucci, YSL
Sapatos: Sebago, Channel
Carros: Mercedes SLK, BMW série 5, Volvo S70.
Discurso: copy-paste de cavaquismo, cunhalismo ou santanismo
Ideias: está à espera que venham do Burundi... por encomenda.

Gelatina e o Amor
Queres curtir? Quero.
Estás grávida? Aborta.
Tens casa?Não. Pede empréstimo.
Queres Casar? Las Vegas.

segunda-feira, junho 27, 2005

Tive um ataque de cultura…

Sinto-me o volume XXXIII de uma enciclopédia. Se tivesse que procurar o meu número de telefone, não seria nas páginas amarelas, mas sim no Larousse. Finalmente comunico de forma complexa… e de léxico alargado levo os leigos à redundância. Entre um cigarro e gestos subtis que poderiam desenhar um rosto “monalizesco”, avancei em passo firme, em jeito de coluna coríntia, e alicercei-me no Festival de Sintra.
Sofri um autêntico ataque de cultura. Avassalada!...pelos sons de um piano, que rasgado pela ventania, trucidava os melhores penteados da fila da frente. Senti-me um autêntico saco de alpista, no meio de tantos pássaros que insistiam em acompanhar o pianista. Por momentos imaginei-me de fisga no bolso e de caçadeira em punho.
Fascinante era observar os movimentos de um público educado, a enxotar a mosquinha, a desviar a abelhinha que tentava extrair o néctar dos fatinhos da naftalina, a dar um jeitinho no penteado-capacete, e a dizer um “olázinho” em estilo papal.
No intervalo, o público era confortado com um travesseiro de Sintra e um café, prazeres que os despertavam da sonolência mais inoportuna.
Entre telemóveis e descascar de rebuçados para tosse, faltavam as criancinhas. Seres adoráveis, irresistíveis, fantásticos e perfeitos para ficarem em casa, a brincar e a ouvir música para a sua idade…creio que o terceiro andamento da segunda sonata de Chopin, mais conhecido pela “marcha fúnebre”, não é a melhor das sugestões para uma criança de três anos…e pensando melhor acho da próxima vez, fico a fazer companhia às criancinhas: a brincar e a ouvir música própria para a minha idade e estatuto.