sábado, agosto 27, 2005

Açores - Parte I

Reencontrei-me com a Natureza. Tinha saudades do contacto com a Terra. A minha passagem por S. Miguel libertou o meu lado selvagem, dei por mim a desafiar o Atlântico, a querer mergulhar em cada lagoa apresentada, a provocar abismos. Tive vontade de me libertar de um Eu cosmopolita, atrofiado pelas regras e pelo tempo e ritmo que nos é imposto.
Acordo agora, com uma energia que só nos é dada pelo reencontro com a beleza, a arte do Divino. Não sabia que a cor verde podia ser tão versátil, que os vulcões que outrora queimaram a Terra, nos davam o mais belo dos silêncios.
É de facto difícil habituarmo-nos a um Mundo, a uma cidade construída, a aprender a dispensar a nossa ousadia, o nosso lado animal. Na realidade andamos calçados porque assim e alguém o determinou. Quem é que não gosta da sensação de sentir a areia molhada?...do mar a convidar-nos para entrar? Quem é que não fica reduzido à cor do sol no crepúsculo? Quem é que não consegue ceder à cor de platina do mar, quando este encontra a Lua?
Vivemos esquecidos daquilo que somos.

S. Miguel, Ponta Delgada.

Eis na fotografia as consequências de uma semana na ilha de S. Miguel, rodeada de Excelentes Amigos que entre a dedicação e um enorme carinho, provocaram em mim, sorrisos constantes.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Entre flaps e aterragens….

Depois de tanta turbulência, poços de ar, supostas aterragens de emergência, despir de casacos, seguranças e malas em espera, consegui ter no sexto voo de Agosto uma viagem decente…e foi assim de Ponta Delgada a Lisboa. Fiquei comovida de ter proporcionado aos céus uma viagem tão tranquila, porque normalmente onde estou, em matéria de aviões e aeroportos, acontece sempre alguma coisa. Depois de uma aterragem brilhante, tão doce que só os travões anunciaram o toque com a Terra, estava um autocarro de escape paciente, com um motorista reduzido à sua insignificância perante um Air Bus 310.
Agora vem a melhor parte: o que é que pode acontecer de mais ridículo num aeroporto, depois de uma viagem de avião? Morrer de desastre de autocarro. Não podia deixar a minha fama em milhas alheias: não aconteceu nada ao avião, ia acontecendo ao autocarro!...Mas como tudo o que passa comigo tem uma certa ironia, digo-vos que o embate ia sendo com o transporte da bagagem do dito voo. Era a chamada morte de “malas aviadas”.
Pior que morrer de desastre de autocarro numa pista de aviões, é aturar um idiota com a cabeça banhada de gel, a mandar piropos de mau gosto, e eu sem alternativa ter que olhar para aquele cenário de guerra, para aquela cabeça em forma de campo de minas, para aquele sorriso de trincheira convencido que tinha piada e que eu estava a gostar. Vinda do céu estive mais próxima do inferno.

domingo, agosto 07, 2005

Sebastianismos….

É caso para dizer: vou-me embora, vou partir e não me apetece! Lá estou eu com as lamechas e saudosismos, é de facto insuportável quando se vive com emoções aos kilos.
Sou daquelas espécies humanas que se pudesse carregava a família, os amigos e alguém especial para todo o lado. Pena que as novas tecnologias, ainda não permitam empacotar aqueles de quem mais gostamos. Já me estava a imaginar de caixinha sofisticada, a transportar todos os que fazem e são parte de mim.
Eu sei: nesta altura estão a pensar que eu realmente devo sofrer de emocionite aguda, mas de facto levo um vazio tocado pelo medo de não poder voltar a abraçar, aqueles que eu queria que estivessem na caixinha.
Depois, os telefonemas “dos beijinhos e boa viagem”…os silêncios intermédios e vozes comovidas, deixam-me numa pieguice total.
Estou com a sensação que me alistei nos Comandos e que vou combater sem regresso marcado, ou que vou para o mar, sem terra à vista, à procura de uma tubarão branco.
Ainda não fui e já têm saudades. Eu, ainda vou e já me apetece voltar.

Um dia no resto de uma vida…

Numa destas noites, contempladas pela insónia e por um pseudo-cérebro que teima em não desligar, estive a avaliar emoções e realidades. Escusado será dizer que qualquer réstia de esperança de o sono me visitar, foi imediatamente fulminada. Emoções e uma noite tranquila não são compatíveis.
Tive uma autêntica centrifugação de pensamentos, de lavagem delicada a 90º.
Um dia é o suficiente para mudar tudo aquilo que nos rodeia, para direccionar a nossa atenção e criar novas emoções. Estou para aqui a disparatar em frases buriladas e lembrei-me de um filme interessante “As Pontes de Madison County”. Quando vi este filme, percebi que o ser humano por muito convicto que seja, por muito que se entregue a uma vida que lhe foi destinada, pode ter verdades e realidades abatidas com o aparecimento de outro. A vida de uma mulher, entregue a um quotidiano familiar, foi “abanada” por uma visita inesperada. Ando para aqui com guiões de filmes para explicar, que quando encontramos uma pessoa que nos completa é arrasador em todos os sentidos. Por um lado é fantástico, surpreendente, sufocante e assustador. Por outro, leva-nos a pôr em causa todas as certezas anteriores, os sentimentos antigos, o tempo dedicado e uma realidade adquirida.
Quando o tal dia se prolonga e nos alimenta a certeza, faz com que deixemos de poder viver sem ele, dependemos da nova realidade que nos desafia e nos conforta. É soberbo, acreditem!

quinta-feira, agosto 04, 2005

Há quem prefira os talheres de peixe…

Andam a fechar jornais. Parece que o “formato papel” está seriamente ameaçado; entre telemóveis, Internet e televisão: venha a notícia e escolha.
A crise já se manifestava quando na compra do jornal tínhamos a hipótese de fazer enxoval, cinemateca, enciclopédias, forrar a casa de tapetes, coleccionar roupa, ganhar coletes reflectores e sacos de praia. Ninguém consegue avaliar o número de leitores, se a maior parte compra o jornal para ter direito a um talher de peixe. Se um jornal que se destina a informar, precisa de uma toalha de praia para ser vendido, provavelmente a toalha de praia será o motivo da compra do jornal…este servirá para forrar caixotes ou limpar os vidros.
Mais um indicador da crise é a quantidade de fotografias/imagens que os jornais ocupam em cada página, já ninguém tem paciência para juntar palavras e ler frases, informação rápida é o que se quer. Uma boa fotografia da guerra do Iraque, desde que identificada é o suficiente: é uma guerra e estão lá os americanos. Na realidade já ninguém se preocupa muito com as causas e as consequências, procuram apenas os factos, a informação instantânea.
Muito brevemente os jornais da “nossa praça” terão que encontrar ofertas mais sugestivas, como por exemplo um bilhete para um concerto ou para o teatro, ou até uma visita a um museu, para que os leitores voltem a ser leitores e deixem de ser coleccionadores.