segunda-feira, julho 11, 2005

Sou Táxicodependente II

Uma vez que vos confessei a minha grave dependência, não posso deixar de fazer algumas alegações a meu favor.
Ser táxicodependente é também um estudo sociológico. Todos os dias, entro em carros diferentes, com aromas e perfumes diversos, com decorações de Fé ou desportivas. Cada carro tem uma história para contar, umas felizes, outras de enorme sacrifício e outras são autênticos dramas que nos passam ao lado. Não são histórias sensacionalistas ou de manipulação da opinião pública, são factos de vida. Os taxistas são igualmente bons observadores da realidade, e por vezes são excelentes contadores de situações que coleccionam de “conduzidos” como eu. São óptimas fontes de alerta para os reais desequilíbrios da sociedade, são os primeiros a falar de racismo, de roubos e de perigos diversos. Podem ser igualmente um barómetro económico, uma vez que são os primeiros a “sofrer a crise”, como dizem.
Durante anos tive um taxista privado, o meu taxista, como lhe chamava. Tenho saudades dos tempos que me telefonava, para perguntar a que horas a menina Joãozinha precisava que a fosse buscar, ou quando (com algum orgulho) dizia que já conhecia os sítios “onde a malta nova se diverte”.
O meu taxista, já era meu amigo, tão protector, que esperava sempre que entrasse em casa, que fez questão de se apresentar aos meus pais. Era um “Homem do Minho”, dizia muitas vezes de olhar enaltecido. Ofereceu a sua casa minhota e os repastos preparados pela família. Já era parte da minha vida e eu era parte da dele. Depois de tantas “corridas” e por vezes taxímetros ignorados, sabia toda a sua vida que em parte foi exemplo para a minha.
Depois “do meu taxista” resolvi não adoptar outro, seria uma total deslealdade, mesmo sabendo que neste momento deve estar na sua casa do Minho, com a sua família e a usufruir de uma reforma tão esperada. Hoje tenho muitos taxistas, muitas histórias de vida que surgem como peças de puzzle de forma tão complexa como a nossa existência.