Gosto de falar à povo. De andar de mãos nos bolsos, de escorregar pelas cadeiras, de abraçar as pessoas, de mostrar emoções em público e tratar as pessoas pelos nomes. Gosto de tasquinhas, beber sangria e comer caracóis. Digo as palavras todas e por completo.
Afinal pensava que era chique..mas enganei-me. Precisava de aquele ar construído ao som da voz nasalada, comer os "erres" e dizer pecebe em de percebe, ou então acabar as frases com o "tá a ver?"..Decidamente não sou chique...o que me salva é que ponho o guardanapo no colo e não arroto à mesa, e até sei a ordem dos talheres. Não chega. É preciso aquele toque das conversas sociais das viagens e do melhor spa. Ir ao cabeleireiro e pintar as unhas à francesa.
Eu bem me defendo e digo que até sou educada e sei as regras de etiqueta...pois dizem-me "ó querida a menina é uma tradicional, não é chique de agora"...E depois a história dos beijinhos, dá um, não dois, dê dois porque não gosto só de um..olha ficou com a cara pendurada, etc.
Imaginem que descobri que afinal as pessoas que dão um beijinho, só um, são aquelas que têm um código social para se distinguirem das outras. Isto dava a tese do beijo.
Eu sempre dei um e passei a dar dois porque não quero distinguir-me socialmente na nossa pseudo-sociedade-chique.
Sou portuguesa das migas, da alheira de Mirandela, do tinto, do fado e da tourada.
Mas admiro as pessoas chiques, as suas conversas, o estarem omnipresentes, as fotografias e o glamour. Os cabelos armados, as roupas da moda, as pulseiras do Santana e as casas emprestadas para a fotografia.
Adoro pessoas chiques que exibem marcas de roupa como distinção social, carros de último modelo e que gostam de ler os livros escritos pelas outras chiques.
Portugal está inundado de glamour e de chiques...dá gosto viver neste País.
