sábado, setembro 03, 2005

Açores – Parte II



Quando se toca no Paraíso, corre-se o risco de querer voltar, de rejeitar tudo o que nos rodeia, de nos sentirmos agredidos com aquilo que nunca nos tinha agredido antes.
Dou por mim a imaginar as vacas a pastar na 2ª Circular, os cavalos a relinchar no Colombo, o Tejo transformado em Atlântico, o Rossio em Lagoa do Fogo. Ainda sinto os perfumes intensos e variados de cada flor, da densa vegetação, numa mistura mística com o calor da Terra.
Há qualquer coisa que nos atrai, um tipo de magnetismo que nos prende naquele cenário.
Sempre pensei que viver numa ilha tocava a claustrofobia, por ser um território fechado pelo mar, mas enganei-me. Uma ilha, um território delimitado concentra-nos, obriga-nos a encontrarmo-nos, a observar aquilo que nos rodeia e entrega-nos à plenitude de um horizonte sem fim. Tudo é mais intenso, os sabores, as emoções, as pessoas, as cores, os contrastes…desperta os sentidos e liberta-nos.
Agora de regresso a Lisboa, de que tanto gosto, sinto-me um vulcão em erupção, modero os meus impulsos. Imagino o que seria libertar as vacas do matadouro, raptar os cavalos do picadeiro do Campo Grande, replantar os espólios das floristas, abrir diques e levar o Tejo para o Estádio do Benfica (dava uma excelente lagoa, por sinal).