segunda-feira, junho 27, 2005

Tive um ataque de cultura…

Sinto-me o volume XXXIII de uma enciclopédia. Se tivesse que procurar o meu número de telefone, não seria nas páginas amarelas, mas sim no Larousse. Finalmente comunico de forma complexa… e de léxico alargado levo os leigos à redundância. Entre um cigarro e gestos subtis que poderiam desenhar um rosto “monalizesco”, avancei em passo firme, em jeito de coluna coríntia, e alicercei-me no Festival de Sintra.
Sofri um autêntico ataque de cultura. Avassalada!...pelos sons de um piano, que rasgado pela ventania, trucidava os melhores penteados da fila da frente. Senti-me um autêntico saco de alpista, no meio de tantos pássaros que insistiam em acompanhar o pianista. Por momentos imaginei-me de fisga no bolso e de caçadeira em punho.
Fascinante era observar os movimentos de um público educado, a enxotar a mosquinha, a desviar a abelhinha que tentava extrair o néctar dos fatinhos da naftalina, a dar um jeitinho no penteado-capacete, e a dizer um “olázinho” em estilo papal.
No intervalo, o público era confortado com um travesseiro de Sintra e um café, prazeres que os despertavam da sonolência mais inoportuna.
Entre telemóveis e descascar de rebuçados para tosse, faltavam as criancinhas. Seres adoráveis, irresistíveis, fantásticos e perfeitos para ficarem em casa, a brincar e a ouvir música para a sua idade…creio que o terceiro andamento da segunda sonata de Chopin, mais conhecido pela “marcha fúnebre”, não é a melhor das sugestões para uma criança de três anos…e pensando melhor acho da próxima vez, fico a fazer companhia às criancinhas: a brincar e a ouvir música própria para a minha idade e estatuto.