quinta-feira, julho 21, 2005

Fui iniciada nos pauzinhos

Tive um almoço de família, em formato típico português, a deglutir um naco de vitela. Entre conversas de idade avançada em estilo descritivo, resolvi acompanhar a sobremesa com uma leitura em diagonal do “Independente”. Páginas e páginas de assuntos sérios que me alertaram para uma das minhas lacunas gastronómicas: comida japonesa. Percorri linhas de palavras em itálico, que me levaram a um enorme desejo de provar um sushi, um sashimi e os iaki’s todos. Discretamente retirei o endereço do “Kê Sushi”, não fosse a família pensar que o meu estado de loucura latente se tivesse agravado.
Com algum entusiasmo, levei a ideia ao meu guia espiritual da gastronomia. Muito conhecedor desta cozinha, de imediato prontificou-se a colmatar mais uma distracção dos meus 26 anos de existência. Assim foi, além de guia, uma alma com extrema paciência, que de ar complacente observava a minha inabilidade com os “talheres” dos japoneses.
Muitas tentativas falhadas...muito kobashira, aoyagi, hamachi, se perderam pelo caminho ou mergulharam na piscina do molho de soja.
Por natureza sou persistente e o desejo de experimentar era tal, que inventei novas técnicas de comer com pauzinhos:

Técnica dos pauzinhos com auxílio de um dedo: um pauzinho para empurrar e um dedo para ajudar.

Técnica dos pauzinhos em cada mão: pauzinho na esquerda, pauzinho na direita vale mais, do que um sushi a voar.

Técnica dos pauzinhos em pontas: pauzinhos em jeito de farpas numa investida ousada.

Técnica dos pauzinhos fingidos: utilizadas as técnicas anteriores mas finalizada na postura correcta.

Voltei a exercitar as minhas técnicas num extraordinário restaurante japonês, “O Novo Bonsai”. Mais uma vez, na companhia do meu guia que além de paciente e excelente amigo, é de um altruísmo incontestável...sujeitou-se a mais uma missão impossível, que teve apenas como “imprevistos de resultado já esperado”: a minha trapalhice, de certa forma apagada pelo prazer de estarmos juntos e pela boa conversa.